segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

CORONEL SALGADO: TRAGÉDIA EM SANTO AMARO



Na manhã do dia 23 de julho de 1932, no local onde hoje se localiza o terminal de passageiros do Aeroporto de Congonhas, faleceu o então comandante da Força Pública de São Paulo, coronel Júlio Marcondes Salgado. 

Em plena Revolução de 32, Marcondes Salgado além outros militares e civis acompanhavam a demonstração de um novo tipo de morteiro desenvolvido pelos paulistas para ser usado na Revolução.

O Aeroporto de Congonhas ainda não havia sido inaugurado (só o seria em 1936) e o local, às margens da Auto Estrada Washington Luis, mostrava-se como um bom local para exercícios de tiro já que se tratava de uma grande área plana e descampada.

O Aeroporto de Congonhas e a Av. Washington Luis em 1936

Contudo, quis o destino que um dos projeteis lançados explodisse na boca no lançador atingindo aqueles que acompanhavam o disparo. Estilhaços do projetil atingiram o coronel Salgado da altura do pescoço, seccionando-lhe a carótida e matando-o instantaneamente.
Em decorrência da mesma explosão morreu também o capitão da Força Pública e inventor do morteiro José Marcellino da Fonseca. Ferido gravemente, não resistiu aos ferimentos e entrou em óbito a caminho do hospital.

Morteiro que vitimou os oficiais (note-se o pedaço faltando na boca da arma)

Ficaram também feridos o General Bertoldo Klinger, comandante do Exército Constitucionalista (levemente no braço) e, também sem gravidade, outros oficiais do Exército e da Força Pública que acompanhavam os testes.

O jornal Folha da Manhã de 24 de julho de 1932, ao dar a notícia do ocorrido, assim se referiu ao falecido coronel: “O comandante Salgado impôs-se, desde o início da campanha constitucionalista, como um devotado servidor da causa abraçada por São Paulo e Mato Grosso. Expressando as aspirações unânimes da distinta oficialidade, o chefe do comando da Força Pública, não hesitou um momento sequer em colocar-se ao lado dos homens a quem coube a elevada missão de reconduzir a Nação ao regime da Lei, da Liberdade e da Justiça.”

Na tarde do dia 23, o General Klinger foi ao rádio explicar à população as circunstâncias do desastre que vitimou o comandante da Força Pública. Referindo-se ao seu desventurado companheiro de lutas, proferiu o general as seguintes palavras: “O coronel Salgado tombou como um bravo. Honremos a sua memória como ele havia de querer.”  


General Bertoldo Klinger

Às 21 horas do dia 23 os corpos do coronel Salgado e do capitão Marcellino foram transladados da Faculdade de Medicina para o Palácio da Cidade, onde foi realizado o velório e cerimônia de câmara ardente. Durante a madrugada grande foi o número de pessoas que visitaram os corpos dos malogrados defensores da lei.

Funeral do coronel Salgado e do capitão Marcellino

O enterro, precedido de cortejo fúnebre pelas ruas da Capital, deu-se às 15 horas do dia 24 de julho de 1932 no Cemitério São Paulo.

Cortejo fúnebre ao passar pelo centro de São Paulo

O governador de São Paulo à época, Pedro de Toledo, promoveu post mortem o coronel Júlio Marcondes Salgado ao posto de General Comandante da Força Pública com base no Decreto Estadual nº 5602 de 23 de julho de 1932.

Referências


Jornal Folha da Manhã. Edições de 23 e 24 de julho de 1932 (disponível em www.acervo.folha.com.br)

Jornal O Estado de São Paulo de 10 de abril de 1936 (disponível em www.acervo.estadao.com.br)

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

NOTÍCIAS DE SANTO AMARO

Parte do contingente santamarense ao lado da Prefeitura Municipal (Casa Amarela)


Deixará a cidade de Santo Amaro, hoje, o batalhão local, comandado pelo tenente Luiz Martins de Araújo, e composto de 100 reservistas e voluntários ali residentes.

Por ocasião dos exercícios de tiro, ontem efetuados, ótimos foram os resultados obtidos.

As represas locais se acham desde o início do movimento, convenientemente guardadas por forças de Santo Amaro, tendo sido organizada pelo Sr. Prefeito a Guarda Municipal da cidade e seus bairros, onde reina grande entusiasmo.

Obra da barragem da represa do Guarapiranga em 1907

Referências


Publicado no jornal Folha da Manhã de 17 de julho de 1932 (grafia atualizada)


terça-feira, 10 de novembro de 2015

PROFESSORA CAROLINA RIBEIRO



Carolina Ribeiro nasceu em Tatuí/SP em 28 de janeiro de 1892. Filha de professor e irmã de outros quatro, em 1907 concluiu seus estudos,  aos 15 anos, formando-se professora na Escola Complementar de Itapetininga. A partir de 1908 passa a dedicar-se ao ensino público paulista ao ser admitida como professora da Escola Modelo, anexa  à Normal de Itapetininga.

Em 1913 transfere-se para a Capital onde passa a lecionar no Grupo Escolar “Maria José”. Na década de 20 assume a cadeira de português na Escola Normal do Brás e posteriormente passa à função de diretora organizando o Grupo Escolar São José no Ipiranga de 1923 a 1931 e, em 1932, o Grupo Escolar Erasmo Braga na Consolação.

Na Revolução Constitucionalista teve destacada participação, organizando e conduzindo serviços sociais de ajuda às famílias dos combatentes que partiam para o front. Foram criados,  junto ao MMDC e à Liga das Senhoras Católicas, vinte e dois postos de assistência às famílias espalhados pela Capital. A Professora Carolina chefiou um desses postos –  localizado na Praça da República  –  juntamente com outras distintas senhoras da época: Alaíde Borba, Nini Vergueiro Steidel, Zuleica Martins Ferreira e Alice Meireles Reis. Foi ainda corresponsável pela criação e funcionamento da “Casa da Formiga” que estimulava crianças a doarem doces e chocolates para serem enviados aos soldados nas linhas de combate. A “Casa da Formiga” acabou não coletando apenas balas, chocolates e biscoitos, mas outras coisas e até dinheiro para a Revolução.

Em 1935 passa a lecionar na Escola Normal Caetano de Campos da qual viria a ser diretora entre os anos de 1939 a 1947 e depois novamente entre 1953 e 1954. A partir daí passa a gozar de grande reconhecimento como educadora de jovens e adultos tendo seu nome, até os dias de hoje, ligado à educação pública paulista e em especial à velha Escola Normal da Praça da República (hoje sede da Secretaria da Educação de São Paulo).

Em 1955 foi nomeada pelo governador Jânio Quadros Secretária de Estado da Educação, tornando-se a primeira mulher a ser titular de uma secretaria de estado no Brasil.

Faleceu em 15 de abril de 1982 aos 90 anos.

Cinco meses antes, em novembro de 1981 proferiu palestra sobre a participação feminina na Revolução de 32. No evento realizado no Clube Piratininga, a professora então com 89 anos, discursou sobre o importantíssimo trabalho realizado por ela e milhares de outras mulheres na Revolução Constitucionalista. Segue o trecho final da palestra proferida pela grande educadora e, acima de tudo paulista, Professora Carolina Ribeiro.



Referências



Cinquentenário da Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo: Secretaria de Estado da Educação, 1982

Áudio do acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS) disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XUKsCT7pAZk

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

CORONEL EUCLYDES FIGUEIREDO


Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 12 de novembro de 1883. Ingressou no Colégio Militar do Rio de Janeiro aos 10 anos. Foi admitido como cadete na Escola Militar da Praia Vermelha em 1901 e lá teve sua primeira experiência revolucionária tomando parte da Revolta da Vacina em 1904. Expulso da escola com outros colegas, foi anistiado e readmitido 1 anos depois.

Por ter se destacado nos estudos enquanto cadete, após formado, ganhou bolsa de estudos para aperfeiçoamento na Alemanha, junto ao Exército Imperial Alemão, de lá regressando em 1912.

No ano seguinte, 1913, se casa com Valentina Silva de Oliveira Figueiredo com quem teve 5 filhos entre eles João Baptista Figueiredo, presidente do Brasil entre 1979 e 1985.


Coronel Euclydes e o filho Guilherme em 1932

O 30º Presidente do Brasil - João Baptista Figueiredo
                                                                  
Ainda na década de 10 funda com outros jovens oficiais do Exército, que também haviam participado da missão na Alemanha (aqui conhecidos como “jovens turcos”), a Liga da Defesa Nacional e revista Defesa Nacional que tinham entre seus objetivos a modernização do Exército Nacional.

De convicções políticas marcadamente civilistas, ao contrário da maioria dos demais oficiais do Exército, positivistas, opõe-se, ficando ao lado do governo e combatendo os insurgentes durante a revolta tenentista de 1922.

Em 1923, como capitão lotado no gabinete do Ministro da Guerra Setembrino de Carvalho, Euclydes vai ao Rio Grande do Sul mediar o fim da revolta ocorrida no interior do estado.  Tem participação ativa na assinatura do Tratado de Pedras Altas pelo qual os partidários dos políticos gaúchos Borges de Medeiros e Assis Brasil põem fim aos combates. Nesta ocasião se aproxima destes e de outros líderes gaúchos como Osvaldo Aranha, Flores da Cunha e João Neves da Fontoura.

Absteve-se de apoiar qualquer um dos dois candidatos na eleição presidencial ocorrida em março de 1930: Julio Prestes e Getúlio Vargas. Porém acreditava que cabia ao Exército apoiar o vencedor nas urnas, que, a despeito das suspeitas de fraude levantadas, foi Prestes. Acreditava que o Exército deveria manter-se longe da política, como defensor da constituição e dos anseios populares.

Durante a Revolução de 1930, já no posto de coronel comandante da 2ª Divisão de Cavalaria de Alegrete/RS, mantém-se ao lado da legalidade não tomando parte do movimento revolucionário de outubro daquele ano, mesmo após ser convidado a dele participar pelo amigo Osvaldo Aranha.

Osvaldo Aranha
Foi preso. Libertado no ano seguinte inicia conspiração - sob a perseguição implacável da polícia política de Vargas - junto a políticos paulistas e gaúchos que levaria à Revolução Constitucionalista de 1932.

Na manhã do dia 9 de julho de 32 chega à capital paulista para dar início ao levante. Na madrugada do dia seguinte toma o comando da 2ª Região Militar localizado na Chácara do Carvalho, no bairro da Barra Funda. Permaneceu como comandante da 2ª Região Militar até 12 de julho quando passou o comando ao seu antigo colega de missão na Alemanha, General Bertoldo Klinger, que daquela data em diante seria o comandante-geral das operações militares da Revolução. O coronel Euclydes dirigiu-se então à cidade de Cachoeira Paulista/SP onde instalou seu posto de comando e chefiou a 2ª Divisão de Infantaria em Operações na qual combateu, até o fim da Revolução, em diversas localidades no Vale do Paraíba (chamado Setor Norte da campanha).

Com o armistício que pôs fim à Revolução em 2 de outubro de 1932, Euclydes junto com outros seis companheiros decidem fugir para o Rio Grande do Sul, onde acreditavam que havia ainda alguma atividade revolucionária.  Apoiados e patrocinados por simpatizantes, empreendem verdadeira aventura para tentar dar continuidade à revolução iniciada em 9 de julho. Desembarcam de trem em  Mogi das Cruzes e de lá partem  para Santo Amaro por estradas vicinais, disfarçados, evitando a todo custo serem reconhecidos e presos pela polícia. Em Santo Amaro descem a Serra do Mar a pé por meio de trilhas. No pé da serra pegam um pequeno note que os leva até a praia de Guaraú em Peruíbe. De lá partem em um barco de pesca rumo ao Rio Grande do Sul.

O barco, que se chamava Odete, era pilotado por um barqueiro cujo apelido era “major”. Ao aportarem na Ilha dos Afogados, em Santa Catarina, pescadores locais ouviram quando um dos revolucionários chamou pelo apelido o barqueiro. A suposta presença de um “major” abordo da traineira, naqueles tempos de revolução, acabou chegando aos ouvidos da guarnição do Exército local. O comandante da guarnição determina a prisão de todos os ocupantes do barco, entre eles o coronel Euclydes.

Foi mandado ao Rio de Janeiro onde ficou preso junto a outros presos políticos ligados à Revolução Constitucionalista na Casa de Correição. Em outubro de 1932 foi exilado junto a outras dezenas de presos para Portugal. De lá conseguiu, ao lado de mais alguns companheiros, viajar para a Argentina onde já se encontravam outros revolucionários exilados, entre eles seu antigo chefe de estado maior no Vale do Paraíba, coronel Palimércio de Rezende.

Coronel Palimércio de Resende

Retornou ao Brasil em 1934 assim como todos os demais exilados políticos da Revolução de 32. Afastado do Exército uniu-se ao amigo e companheiro de lutas Palimércio e fundou uma empresa de engenharia. Em 1937, com o advento do Estado Novo de Vargas foi novamente preso ficando nessa situação até 1942. Perdeu seus direitos políticos e inclusive a própria cidadania sendo considerado, desde a sua prisão, como civilmente morto! Sua esposa recebia pensão de viúva e seus filhos eram considerados pela lei como órfãos!

Com a declaração de guerra do Brasil às potências do Eixo em julho de 1942, apresentou-se, como voluntário, para fazer parte da Força Expedicionária Brasileira que combateria na Itália. No ato da inscrição omitiu sua condição de ex-coronel, entretanto acabou sendo reconhecido por oficiais responsáveis pelo alistamento. Euclydes Figueiredo estava com 55 anos! A tentativa de inscrição como voluntário foi indeferida.

Em 1945 foi eleito deputado federal pela UDN e participou da Assembleia Constituinte que promulgou a Constituição Federal de 1946. Quando de sua diplomação como deputado ainda estava impedido do gozo de seus direitos políticos. Vivia-se já a abertura democrática e uma lei então foi promulgada revertendo-o à inatividade do Exército e concedendo-lhe a promoção a general-de-brigada.

Em 1950 tentou sem sucesso eleger-se senador pelo Distrito Federal e perdeu nova eleição para deputado federal em 1954.

Faleceu em Campinas em 20 de dezembro de 1963 aos 80 anos de idade.



Referências

FIGUEIREDO, Guilherme. Guilherme Figueiredo (depoimento, 1977). Rio de Janeiro, CPDOC


DUARTE, Paulo. Palmares pelo Avesso. São Paulo, Editora Progresso, 1947.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

DECÁLOGO DA VICTORIA



O movimento constitucionalista vencerá:

1)          Porque é um movimento de opinião;
      
     2)     Porque taes reivindicações são inspiradas por Deus e, jamais, fracassaram;
      
     3)     Porque seus soldados trazem um ideal no coração, o mesmo não succedendo aos seus irmãos de além fronteira;
      
     4)     Porque tudo aqui é feito pelo povo, absolutamente identificado com a causa abraçada; o mesmo não acontecendo com os que, iludidos, defendem a Dictadura – tudo lá lhes sabe a peso de ouro;
       
     5)     Porque a guerra depende decisivamente do fator econômico, o qual, mercê de Deus, não falta a esse povo laborioso;
      
     6)     Porque a efficiência do soldado na trincheira, depende, sobremodo, do trabalho da retaguarda – e aqui há ordem, disciplina, e racionalização do serviço bellico;                       

     7)     Porque a mulher constitucionalista vibra e labuta no aprestamento da victoria;
   
     8)     Porque à medida que cresce nossa eficiência, tudo nos indica o depauperamento dictatorial;
    
     9)    Porque a dictadura está irremediavelmente desacreditada e desmoralizada;
      
    10)   Porque 40 milhões de habitantes, deste glorioso Brasil, anseiam pela Ordem e pela Lei.



Publicado no Jornal Folha da Manhã de 13 de setembro de 1932

terça-feira, 27 de outubro de 2015

O BRASÃO DE SANTO AMARO




O brasão de armas de Santo Amaro foi elaborado em 1926 por Affonso d’Escragnolle Taunay (que o concebeu) e José Wasth Rodrigues (que o desenhou e pintou).

Nele veem-se representados: as matas da então Vila de Santo Amaro, a figura do bandeirante, um militar do exército de Morgado de Matheus, índios Guaianazes (primeiros habitantes do local) e o escudo da família do Padre José de Anchieta (personagem de destaque durante a fundação do então povoado no século XVI). 

Padre José de Ancheieta - "Apóstolo do Brasil"

Na parte inferior do brasão uma representação de máquinas rudimentares utilizadas naquela que é considerada a primeira usina (engenho) de ferro das Américas. Segundo Edmundo Zenha, grande historiador de Santo Amaro, “o engenho de Nossa Senhora da Assunção de Ibirapuera começou a funcionar em 1607 e achava-se localizado nas terras de Martim Rodrigues Tenório de Aguiar”. Em 1629, com a morte de seu proprietário, o engenho, que ficava mais ou menos onde hoje está o Centro Empresarial, foi abandonado.

Centro Empresarial de São Paulo

Em 13 de fevereiro de 1928 o brasão de Santo Amaro foi oficializado por meio da Lei Municipal nº 62 (grafia original):

A Câmara Municipal de Santo Amaro Decreta:
Art. 1º - Fica approvado o projecto para o brazão para a cidade Santo Amaro, organizado pelo eminente historiador pátrio Dr. Affonso d’Escragnolle Taunay, cujo teor é o seguinte:

a)            Escudo redondo, portuguêz, encimado pela coroa mural, distinctiva das cidades, cortado   e partido;
b)         No primeiro quartel partido, apparecem à dextra, em campo de prata, árvores de sinople verde de uma floresta traduzindo o nome de Ibirapoéra, do nosso abanheenga, que no dizer da autoridade notável de Theodoro Samapaio significa “a matta grande”, o que concorda com a lição do insigne indianólogo Baptista Caetano de Almeida Nogueira;
c)     À senestra, em capo de ouro, cabeças de índios de carnação “affrontadas” para um escudete que é o brazão da família do Venerável Joseph Anchieta;
d)    No segundo quartel, em campo de goles (vermelho), uma machina antiga de forjar, segundo estampa de princípios do século XVII, com uma armação de madeira ao natural e a saíra (grande bigorna)  e malhão (grande martelo de forjar) de prata;
e)    Como tenentes, à dextra, uma bandeirante armado de arcabuz e revestido de seu característico gibão de armas, à senestra, um official de milícia regional, do tempo em que D. Luiz Antonio de Souza, Morgado de Matheus, fez a reorganização das forças militares da Capitania de São Paulo, recém estabelecida (documento do Archivo do Estado de São Paulo);
f)             Sobre a porta central da corôa mural, um escudete simula esculpidos em campo vermelho um livro da Regra de Santo Amaro, discípulo predilecto de São Bento e abbade;
g)   No listão inscreve-se em letras de goles e fundo de prata a divisa da cidade: ANTIQUISSIMUM GENUS PAULISTA MEUM (Pertenço à mais velha grey paulista).

Art. 2º - Para timbre nos papeis municipaes fica adoptado um escudo redondo com a parte do brazão descripta na letra “d” eneimado pela corôa mural e curcundado pelo listão com a divisa.

Art. 3º - Para distinctivo municipal, fica adoptado o escudo descripto no art. 2º (em ouro e esmalte) com designação do cargo.

§ único – O distinctivo será entregue mediante carga assignada em livro especial.

Art. 4º - Fica aberto o crédito necessário para a execução da presente lei.

Art. 5º - Revogam-se as disposições em contrário.
Prefeitura Municipal da Santo Amaro, em 13 de fevereiro de 1928

O Prefeito Municipal
(a)  Isaías Branco de Araújo

Referências bibliográficas:

GUERRA, Juvencio; GUERRA, Jurandyr. ALMANACK COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO. São Paulo, Graphico Rossolill, 1932.

BERARDI, Maria Helena Petrillo. SANTO AMARO MEMÓRIA E HISTÓRIA, São Paulo, Scortecci Editora, 2005.

Pesquisas Internet (acessos em 26/10/2015)

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

TENENTE OSCAR PENTEADO STEVENSON




Francisco Oscar Penteado Stevenson nasceu em Campinas em 21 de março de 1900, filho do engenheiro Carlos William Stevenson (1869 – 1946) e Rita Nogueira Penteado Stevenson. Acompanhando os deslocamentos a trabalho de seu pai, viveu e cresceu entre as cidades de Campinas, Recife, Caxambú e Rio de Janeiro, onde foi aluno do Colégio Pedro II. Concluiu o ensino médio no Gymnasio do Estado de Campinas em 1919.  Casou-se em 1925 com Lourdes Penteado Stevenson com quem teve apenas uma filha: Eunice Penteado Stevenson. Residiu por muitos anos na cidade e no depois bairro de Santo Amaro.

Carreira Acadêmica

Ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo na qual se graduou como primeiro colocado da Turma nº 93 em 1924 recebendo pelo mérito o prêmio “Duarte de Azevedo”.

Além de advogado renomado, foi professor de história e português no Mackenzie College, no Gymnasio Nacional Rio Branco, no Gymnasio Oswaldo Cruz e na Escola de Comércio de Comércio Alvares Penteado. Foi professor de etnologia e etnogenia na Faculdade de Filosofia de São Paulo. Foi professor de criminologia e técnica policial na antiga Escola de Polícia de São Paulo. Livre docente em Direito Penal pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Foi catedrático da Faculdade Nacional de Direito, por onde se aposentou. Possui diversas obras publicadas, entre elas: “Disciplina Social”, “Do Crime Falimentar”, “Direito Penal Comum”, “Fatores do Crime”, etc. Foi o redator do anteprojeto do primeiro Código Penitenciário nacional em 1957.

Carreira Política

Ocupou diversos cargos públicos, alguns por nomeação outros por eleição. Merecem destaque os de vereador do Município de Santo Amaro até 1930,  quando foi secretário da mesa diretora da casa; membro do Conselho Consultivo do Estado em 1932 durante o Governo Revolucionário de Pedro de Toledo; membro do Conselho Consultivo de Santo Amaro; Vice-Presidente da Federação dos Voluntários de São Paulo; Deputado Federal pelo Partido Constitucionalista de São Paulo e Secretário Municipal dos Negócios Jurídicos da Prefeitura de São Paulo nos anos 50.

Revolução de 1932

Durante a Revolução ocupou papel de destaque ajudando na organização e integrando o agrupamento de voluntários da cidade de Santo Amaro que partiu para o front sul-litorâneo do Estado: CIESA (Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro). Recebeu do comandante do setor, coronel Mello Mattos, o posto comissionado de 2º tenente.

Em 25 de abril de 1935 foi homenageado por sua participação na Revolução com jantar servido no Clube Português de São Paulo. Na ocasião recebeu de seus ex-comandados, entre outros mimos, um álbum de fotografias com registros da campanha santamarense na Epopeia de 32.

Faleceu em 10 de novembro de 1977 na cidade do Rio de Janeiro.

Referências

Caldeira, João Netto. “Álbum de Santo Amaro: A História dos Santamarenses”. Ed. Bentivenga e Netto, 1935

Jornal Correio Popular de Campinas, edição de 1º de novembro de 1973

www.arcadas.org.br – acesso em 16/10/2015


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A COMPANHIA DE SANTO AMARO EM 1932 NA OBRA DE PAULO NOGUEIRA FILHO – 1ª Parte


Nascido em São Paulo em 16/11/1898, o político e latifundiário paulista Paulo Nogueira Filho foi personagem de destaque durante a Revolução de 32.

Antes, em 1926, ajudou a fundar o Partido Democrático e em 1930 fez parte da Aliança Liberal que levou Getúlio Vargas ao poder após a Revolução de outubro do mesmo ano.
Até 1931, ocupou a Secretaria de Compras do Ministério da Fazenda de Vargas, pasta então comandada pelo banqueiro paulista José Maria Whitaker.

Em 1932, foi um dos principais articuladores da Frente Única Paulista, união dos partidos Democrático e Republicano Paulista, que fazia oposição ao governo Vargas e que se constituiu no grande braço político da Revolução Constitucionalista.

Entre as décadas de 50 e 60, Paulo Nogueira Filho publicou sua monumental obra, organizada em seis volumes, intitulada: “A Guerra Cívica 1932: Ideais e Lutas de um Burguês Progressista”.

Faleceu em 30/10/1969 sem conseguir terminar sua obra a qual contém algumas poucas referências à participação de Santo Amaro na Revolução.

No segundo tomo do terceiro volume da obra há um capítulo destinado à Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro - CIESA. Neste narra a formação da companhia e as operações militares das quais fez parte o contingente santamarense até o final de julho de 1932.

Com o escopo de preservar, resgatar e dar conhecimento às novas gerações sobre a participação dos soldados de Santo Amaro na grande Epopeia de 32 transcrevemos abaixo parte da obra deste grande paulista.

Paulo Nogueira Filho 




Companhia Isolada do Exército

A ação do Destacamento da Serra não se limitou à praça militar santista, à guarda da ferrovia São Paulo - Santos e da usina elétrica do Cubatão, bem como à vigilância nas praias e recôncavos da costa próximas ao grande porto.  Abrangeu igualmente a defesa de toda a zona da Mayrink-Santos, da Santos-Juquiá, e da região que medeia entre a última estação desta ferrovia e extremo sul do Estado de São Paulo.

Tendo em conta a extensão desta região, o acidentado de sua topografia, a rarefação e pobreza da população, bem como as dificuldades de transporte, então aí existentes, é fácil conceber os prodígios que se impuseram aos homens incumbidos da defesa desse setor. Foi ela, entretanto, realizada com indizível espirito de sacrifício e bravura por um punhado de voluntários civis, gente da elite, agremiada em Santo Amaro pelo prefeito Francisco Ferreira Lopes e posta sob o comando de um oficial do Exército. Klinger dedica a essa tropa as cinco linhas seguintes: “Em conexão com o Destacamento do Alto da Serra, a 17 de julho foi nomeado o 2º Tenente-aviador Luis Martins de Araújo – apresentado a 14 – para comandar a Companhia de Guerra organizada pela Prefeitura de Santo Amaro a qual agirá no setor da Serra do Mar, trecho da estrada de rodagem que acompanha a linha Mayrink-Santos.”

Francisco Ferreira Lopes - Prefeito de Santo Amaro em 1932

Bem entendido: os objetivos enunciados pelo General são apenas os de início assinados a esse contingente. Logo eles se estenderão a uma esfera de ação amplíssima. Malgrado esse fato, nos livros e crônicas da Guerra Cívica, pouquíssimas são as referências a essa coluna que no Destacamento de Mello Matos prestou serviços de guerra indeléveis à causa paulista. Creio que isso se explica apenas por condenável modéstia de seus integrantes, entre os quais se encontrava o professor Oscar Penteado Stevenson. É, entretanto, imprescindível que sua história venha a lume, como revelação de aspectos dos mais belos e característicos da Guerra Cívica.

Oscar Penteado Stevenson

O contingente é composto todo ele de voluntários, alistados por puro idealismo, que partem para o cumprimento de missões, entre as quais algumas chegaram a ser julgadas superiores à capacidade de seus executores, soldados mal preparados e dispondo de materiais de guerra precaríssimos.

Esteados na confiança que tinham em si mesmos e na vontade férrea de concorrer para a libertação de sua terra, adaptaram-se os jovens componentes dessa “Companhia Isolada do Exército” às piores condições ambientes, realizando prodigiosas improvisações no preparo e improvisação das ações bélicas que tiveram a seu cargo. Não raro, em dias ou horas apenas, transformaram-se em destemidos e destros guerrilheiros.

Outro aspecto extraordinário a ressaltar nesse núcleo de combatentes do Litoral Sul é que, inicialmente formado por moços por padrões altos de bem-estar, conforto e segurança, ele se vai ampliando, à medida que aumentam os sacrifícios pessoais e os riscos coletivos! Seu efetivo, em vez de se restringir, se ensancha, com as sucessões de adesões espontâneas e de valia trazida pela caboclada da região e por inúmeros nordestinos, que, em fases árduas da luta, se irmanaram com os voluntários de Santo Amaro, enfileirando-se entre os melhores e mais ardorosos combatentes, tal como esse heroico Delmiro Sampaio que sacrificou conscientemente sua vida em combate para salvar seu comandante!

Esse punhado de bravos, na primeira semana da Guerra partiu para o alto da Serra, na linha Mayrink-Santos. Enquadrados no Destacamento Mello Matos, dois dias após tiverem ordem de se movimentar rumo à Juquiá, o que fizeram por Santos. Estacionaram primeiramente na ponta dos trilhos da estrada de ferro, organizando, como lhes cumpria, eficiente vigilância em profundidade da direção da fronteira do Paraná. Nessa ocasião chega-lhes a dolorosa notícia do que ocorrera em Itararé, Faxina e Apiaí.
Ao encontro dos retirantes do combate travado nesta última localidade, seguiu prontamente um dos pelotões da Companhia Isolada.

Mas, aí, já no mês de agosto, começa outra fase da Epopeia em que veremos em ação esses combatentes, que nunca foram vencidos!

Soldados da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro em 1932



Bibliografia

NOGUEIRA FILHO, Paulo. A Guerra Cívica 1932: Ideais e Lutas de um Burguês Progressista, 3º Volume, 2º Tomo, p.369/371. São Paulo: Editora José Olympio.

GUERRA, Juvencio; GUERRA, Jurandyr. ALMANACK COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO. São Paulo: Graphico Rossolillo.

WIKIPÉDIA (pt.wikipedia.org) – acesso em 08/09/2015

bernardoschmidt.blogspot.com.br - acesso em 08/09/2015