terça-feira, 28 de julho de 2015

CAMPANHA "OURO PARA O BEM DE SÃO PAULO"



Com o intuito de arrecadar fundos para o financiamento do movimento revolucionário, criou-se, em 1932, a Campanha “Ouro Para o Bem de São Paulo” ou “Ouro Para a Vitória”.

Organizada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que em 9 de agosto constituiu comissão a ser encarregada da campanha. Compunham a comissão Carlos de Souza Nazaré (Presidente da Associação Comercial), José Maria Whitaker, Numa de Oliveira, Vicente da Almeida Prado, Monsenhor Gastão Liberal Pinto, Erasmo de Assumpção e Gastão Vidigal, todos integrantes da diretoria da ACSP.

O objetivo da campanha era o de conclamar todos os paulistas a doarem objetos de ouro bem como joias e outros objetos de valor que pudessem financiar a luta contra a ditadura de Getúlio Vargas e seu Governo “Provisório”.

A iniciativa, assim como tantas outras durante a Revolução, se espelhava em campanha semelhante feita por franceses durante a I Guerra Mundial.

Acreditava-se que nenhum paulista deixaria de fazer sua contribuição mesmo que fosse com uma pequena quantidade de ouro para a “vitória sagrada de São Paulo e do Brasil, na vida de luta ou de morte em que estaremos emprenhados.” Os donativos eram “a opulência de sentimento cívico dos paulistas.[1]

Casais doaram suas alianças, médicos e advogados seus anéis de formatura, jovens desportistas as suas medalhas.  Na capital e no interior recebiam-se ainda todo e qualquer tipo de objeto de ouro como canetas, vasos, cigarreiras.

Para as alianças de casamento (maior patrimônio de tantos casais) e anéis de formatura entregues, dado o valor sentimental dessas joias, em troca recebiam os doadores anéis de latão, de valor simbólico, com a inscrição “Dei Ouro para o bem de São Paulo” acompanhado ou não de um diploma.

Anel de valor simbólico conferido aos doadores


Diploma da Campanha do Ouro

A cada dia cresciam as doações bem como a identificação popular com a campanha. Empresários, presidentes de entidades e religiosos vinha a público, pelo rádio, externar seu apreço à causa e conclamar o povo a aderir.

Até o final da campanha, dias antes da derrota militar, haviam sido recebidos quase 33.000 donativos.

Próximo ao dia do armistício, por rádio, o General Klinger (comandante das tropas constitucionalistas) fala ao General Góes Monteiro (comandante das tropas ditatoriais) da determinação de gente bandeirante em sustentar a guerra entregando donativos para a campanha:

“...os ricos entregam o seu ouro, com discrição britânica e bravura romana, atributos bem brasileiros; as senhoras despojam-se de suas joias; os bispos entregam o ouro das igrejas  e as suas próprias cruzes peitorais; os casais pobres levam à coleta suas alianças; os advogados, os médicos, os seus anéis...”

General Bertoldo Klinger

Na antevéspera da ocupação da cidade pelas tropas ditatoriais, receando-se que o ouro paulista caísse nas mãos do Governo Provisório, a comissão organizadora da campanha revolveu doar à Santa Casa de Misericórdia o que havia restado desse tesouro popular.

Com os recursos obtidos com a venda do ouro recebido, a Santa Casa (na época já em dificuldades financeiras) construiu um edifício de salas comerciais no centro de São Paulo: o prédio Ouro Para o Bem de São Paulo que até esta data integra seu patrimônio.


Prédio Ouro Para o Bem de São Paulo localizado na rua Álvares Penteado 


 Referências Bibliográficas

Hernani Donato: A Revolução de 32. Editora Circulo do Livro, 1982
Revista Digesto Econômico. Edição de Maio/Junho de 2012. Associação Comercial de São Paulo



[1] O Estado de São Paulo, 10 de agosto de 1932

segunda-feira, 6 de julho de 2015

SOLDADO PAULO LOBATO GIUDICE


Hoje destacamos no blog a participação deste santamarense de coração que integrou a Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro (vide post de 1/9/2014) e bravamente, com seus familiares, lutou por São Paulo na Epopeia de 32. Seus restos mortais hoje repousam no Mausoléu do Soldado Constitucionalista do Ibirapuera.

Agradeço a Camila Giudice que compartilhou conosco este belo texto sobre sua família que, um dia, deu "TUDO POR SÃO PAULO!".


"Fui descobrir muito tarde sobre a participação de minha família na Revolução Constitucionalista de 32. Na nossa família, não era comentado sobre esse assunto, mas de outras realizações da qual também temos muito orgulho. Somos de uma família que fez muita história em São Paulo, grandes nomes, muitas conquistas, e este assunto não era do meu conhecimento até eu trabalhar no Parque do Ibirapuera e monitorar visitas no Mausoléu do Soldado Constitucionalista em Homenagem aos Heróis de 32 (Obelisco do Ibirapuera) no ano de 2001, onde em justa homenagem, desde 2002 o soldado Paulo Lobato Giudice se uniu à ultima trincheira.

Nascido aos 27 de Novembro de 1906 em Pindamonhangaba, filho de José Gouveia Giudice e Otília Lobato Giudice. Foi uma pessoa muito querida, de família de intelectuais e influência. Sempre bastante cordial, gostava de estar com amigos. Fez sua carreira no Instituto Biológico de São Paulo, como servidor público. Trabalhou no controle de pragas de gafanhotos em cafezais, ia de trem, carro, muitas vezes a cavalo. Ocupava o cargo de Inspetor de Produção Vegetal, lotado no Departamento de Defesa Sanitária da Agricultura. Chegou a trabalhar no Mato Grosso no controle de praga de gafanhotos, e em São João da Boa Vista (SP), (onde conheceu sua esposa Evani, em uma procissão) na inspeção da ferrugem nas lavouras de Café. Se aposentou como Chefe de Vendas do Departamento de Vacinas.

Na família, seu pai José Gouveia Giudice, Carlos Lobato e Geraldo Lobato Giudice também combateram na Revolução.  Também Monteiro Lobato (primo-irmão de meu avô), como apoiador da Revolução de 32.

Sua passagem pela Revolução Constitucionalista de 32 se deu em várias frentes, como no Batalhão de Santo Amaro (onde serviram seu pai José Gouveia e irmão Carlos Lobato Giudice, este Engenheiro e Professor da USP), no Litoral e também em Itú. Em Itú, deu seu uma passagem curiosa, em uma troca de munições com outro soldado, já estava de noite, não conseguiam se ver direito, e quando chegaram próximo à fogueira, descobriu que o outro soldado era seu irmão Geraldo.

Todos voltaram com vida da Revolução. Meu avô Paulo e seu pai José eram soldados, seu irmão Geraldo 2o Sargento na Revolução e o Carlos era cabo.

Meu avô Paulo se casou com a Sanjoanense Evani Loiola Fontão, cuja família também tradicional, de fazendeiros de café, havia tido grande participação na Revolução. Consta em registros os que lutaram em São João da Boa Vista: André Loiola, José Oliveira Fontão, Nildes Fontão de Souza, Rogério de Oliveira Fontão e Vidal Fontão (este, meu bisavô). Suas tias Maria José Loiola e Odete Loiola fizeram parte da Cruz Vermelha Sanjoanense, juntamente com Lucinda Peres Fontão e Maria Aparecida Fontão de Sousa. Em outras frentes, também a participação de Sérgio Loiola.  Morou por um período em São Paulo, no Bairro de Santo Amaro, onde criou seus três filhos: Maria Aparecida Lobato Giudice, Paulo Antônio Lobato Giudice e José Carlos Fontão Giudice (meu pai). Retornaram para São João da Boa Vista. Meu avô Paulo faleceu em 1996 e minha avó em 2015. Tiveram uma vida muito plena, com muito amor e carinho de sua família. Hoje, conto e perpetuo a história de minha família e de heróis paulistas de 32 com muito orgulho. Fiz um retrato (uma pintura) de meu avô, que se encontra em acervo permanente no Tribunal de Justiça de São Paulo."

Camila Giudice (neta de Paulo Lobato Giudice)

São Paulo, 06 de Julho de 2015.

PAULO LOBATO GIUDICE


Paulo Lobato Giudice e Evani Fontão Giudice


Soldado José Gouveia Giudice

Maria José Loiola



Da esquerda para direita - Maria José Loiola, Odete Loiola, Evani Loiola Fontão Giudice