sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

SANTO AMARO NA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA:
A BATALHA POR XIRIRICA

A cidade de Xiririca, hoje Eldorado

Rebatizada em 1948 com o nome de Eldorado, a cidade situada às margens do Rio Ribeira de Iguape foi fundada em 1842 e fez parte do primeiro ciclo do ouro do país no século XVII. Por mais de um século Eldorado fez parte do itinerário de grandes barcos a vapor que navegavam pelo Rio Ribeira, partindo de Iguape, levando a produção para a venda e trazendo mercadorias para consumo. Em 1932 foi palco de alguns combates importantes da Revolução Constitucionalista dos quais tomaram parte soldados da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro – CIESA.

A cidade de Xiririca nos anos 30

O Vale do Ribeira não era, no começo da campanha, o local de operações da CIESA. A ela coube, inicialmente, a defesa de instalações estratégicas situadas na Baixada Santista como o Porto de Santos, a Usina Elétrica de Cubatão e os trechos finais das ferrovias Mairinque-Santos, Santos-Juquiá e São Paulo-Santos. Entretanto, ante as sucessivas derrotas dos soldados paulistas na divisa com o Paraná foi necessário o envio da Companhia ao setor Sul-Litorâneo do Estado. No começo de agosto de 32, forças ditatoriais que haviam invadido o Estado pela cidade de Ribeira conquistaram em seguida a cidade de Apiaí. As forças constitucionalistas que guarneciam a cidade foram obrigadas a retrair, descendo a Serra de Paranapiacaba em direção à cidade de Xiririca, passando por Iporanga. Com o intuito de reforçar esse contingente e impedir a tomada de Xiririca pelos ditatoriais, partiu a CIESA ao Vale do Ribeira, sobre os trilhos da Santos-Juquiá.

Estrada de Ferro Santos-Juquiá  

Os soldados de Santo Amaro chegaram à região no dia 18 de agosto. Já nesse dia ocorreu pequena escaramuça entre uma patrulha de CIESA e soldados ditatoriais pertencentes à Coluna do Coronel Ayrton Plaisant. Os inimigos recuaram em desordem deixando no campo da luta quatro mortos.

Em 20 de agosto ocorreu o primeiro grande enfrentamento nas cercanias de Xiririca. Os ditatoriais em perseguição a elementos dos batalhões Marcílio Franco e Barbosa e Silva (que haviam recuado de Apiaí) acreditavam que Xiririca era cidade desguarnecida militarmente. Lá, no entanto, estavam soldados da CIESA (comandados pelo tenente Mouphir Monteiro) e da Força Pública (comandados pelo tenente Feliciano) para dar-lhes combate impedindo a entrada dessas tropas na cidade, tomando-lhes grande quantidade de fuzis, munições, cavalos e víveres. O inimigo teve 2 baixas (creditadas ao sargento da CIESA Sebastião Rodrigues de Campos) e 4 feridos. As forças constitucionalistas fizeram ainda 5 prisioneiros.  As forças ditatoriais recuaram para Itaúna, bairro afastado de Xiririca.

No dia seguinte, o tenente João Stevenson da CIESA comunica, por telegrama, ao Governador de São Paulo, Pedro de Toledo, o sucesso da batalha:

Tenho a honra de participar ao amigo que ontem, após combate, nossa companhia de guerra de Santo Amaro, sob o comando do tenente Mouphir, derrotou as tropas da ditadura. Foram secundados os soldados pelo tenente Feliciano da Força Pública. Entramos vitoriosos em Xiririca às 10 horas da manhã do mesmo dia. Os adversários tiveram duas baixas, quatro feridos, cinco presos e apreendemos cavalos, fuzis e grande cópia de munições. Os nossos soldados se portaram com brilho inexcedível!” (publicado no Jornal Folha da Manhã de 22 de agosto de 1932).

Em 22 de agosto foi enviado um pelotão da CIESA ao bairro Itaúna para o qual haviam recuado os inimigos após os combates do dia 20. Os soldados inimigos mais uma vez bateram em retirada e rumaram à Batatal, localidade ainda mais afastada do centro de Xiririca.

Entre os últimos dias de agosto e os últimos dias de setembro forças ditatoriais tentaram sem sucesso tomar a cidade de Xiririca. Planejavam por essa cidade chagar a Juquiá e de lá atacar, pela via férrea, a cidade de Santos.

A partir de 30 de setembro o inimigo iniciou grande operação militar com o escopo de tomar definitivamente Xiririca e marchar  em direção a Santos. O comando da CIESA, reunido em Pariquera-Açu traçou um plano para proteger Xiririca já totalmente cercada pelos ditatoriais. Tropas que guarneciam cidades próximas deveriam se deslocar à Xiririca para colaborar na defesa da posição. Dessa forma duas colunas compuseram o reforço: a primeira veio em caminhões da cidade de Jacupiranga e a segunda em barcos, pelo Rio Ribeira, oriunda da cidade de Registro. No dia seguinte, após renhidos combates, os santamarenses romperam o cerco e pela segunda vez impediram a invasão da cidade. A batalha se estendeu até o dia 2 de outubro quando caiu em combate o voluntário Delmiro Sampaio. Nesse mesmo dia foi assinado, na cidade de Cruzeiro, o armistício que pôs fim à Revolução Constitucionalista e à bela campanha empreendida pelos homens de Santo Amaro no Vale do Ribeira.  




Referências

Caldeira, João Netto. “Álbum de Santo Amaro: A História dos Santamarenses”. Ed. Bentivenga e Netto, 1935;

Jornal Folha da Manhã (edições de 22/08, 02/09 e 15/09 de 1932);


Prefeitura da Estância Turística de Eldorado (http://www.eldorado.sp.gov.br) acesso em 10/02/2017.

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