sexta-feira, 4 de agosto de 2017

MOBILIZAÇÃO CIVIL EM 32 – AS COLÔNIAS ESTRANGEIRAS




O entusiasmo com a Revolução Constitucionalista também contagiou as colônias estrangeiras em 1932. O Estado de São Paulo, à época com aproximadamente 7 milhões de habitantes tinha quase  20% de sua população nascida em outro país. Os estrangeiros, assim como quase toda a população do Estado, ajudaram como puderam na epopeia empreendida pelos paulistas na restauração da legalidade do país, que passaram a adotar como seu. Chegaram a disputar entre elas a mais volumosa e adequada contribuição. Destacam-se no esforço de guerra paulista as seguintes colônias estrangeiras:


 A Colônia Italiana



A mais numerosa colônia estrangeira em São Paulo se prontificou a ajudar a Cruz Vermelha em suas tarefas assistenciais. Senhoras italianas fundaram a “Comissão de Mulher Italiana” que arrecadou bom número de donativos em bens e dinheiro ao esforço de guerra paulista. Médicos italianos membros da “Ars Médica” ofereceram seus serviços aos hospitais de sangue (de campanha) por meio da “Unidade Cirúrgica Itália” montada dirigida e mantida pela generosidade dos italianos em São Paulo. Confiada ao professor Mangelli, foi a base do hospital de sangue instalado em Capão Bonito. O Governo Estadual mais tarde oficializou a unidade, conferindo o oficialato aos seus integrantes dirigidos pelo professor Benedito Montenegro.

Professor Benedito Montenegro


A Colônia Síria



Constituíram uma comissão para angariar donativos entre seus membros. Obtiveram gêneros doados por grandes industriais e comerciários ligados a colônia. Fundaram duas grandes instituições sob os auspícios da “Sociedade Beneficente das Moças Sírias”: a “Mão Branca” e a “Cruzadas das Capas Impermeáveis”. Na primeira senhoras sírias se dedicavam a confecção de aventais, lençóis e peças de linho para as enfermarias de guerra. Na segunda buscaram materiais e confeccionaram capas para a proteção dos soldados contra intempéries. Uma comissão especial de senhoras levou ao Governador as 2.000 primeiras capas, que, no anverso da gola, traziam os seguintes dizeres: “Vença e Volte – Sociedade Beneficente das Moças Sírias”.

Mulheres em serviços de costura em 1932


A Colônia Alemã



Como as demais colônias estrangeiras não pouparam os alemães os esforços em auxiliar a Cruz Vermelha de São Paulo. Médicos ofereceram seus serviços. O Club Germânia (atual Clube Pinheiros) organizou festivais cuja renda foi revertida em proveito da Cruz Vermelha. A Associação Escola Alemã (atual Colégio Visconde de Porto Seguro) ofereceu seu prédio na Praça Roosevelt para a formação de um hospital. O Hospital Alemão (Oswaldo Cruz) colocou à disposição da Revolução suas instalações.
Hospital

O Hospital Alemão em 1932

 A 4 de agosto, uma comissão formada por Kurt Martin, diretor da Antartica, Oscar Flues, Nick e Francisco Diederichsen entregam à Cruz Vermelha, 5 modernas ambulâncias completamente montadas e equipadas, guarnecidas por motorista, mecânico, enfermeira e médico socorrista. Todos mantidos às expensas dos ofertantes. Cada ambulância continha, além das macas protegidas por coberturas impermeáveis, armários com medicamentos de urgência e um depósito para água filtrada. Completavam a doação 20 macas sobressalentes e uma mesa cirúrgica portátil para operações de emergência.

Uma das ambulâncias doadas pelos alemães em 32 (Crédito: CDM Santuário Nac. Aparecida)


A Colônia Portuguesa



Já a 11 de julho a Colônia Lusitana se reúne e constitui comissão permanente para prestar auxílio à população civil de São Paulo. A 13 era oficialmente instalada no edifício do Clube Português a “Comissão de Assistência da Colônia Portuguesa de São Paulo” com o início da coleta de donativos. Senhoras portuguesas montaram também uma oficina de costura para fornecimento à Cruz Vermelha de material hospitalar como ataduras e tipoias.

 A Colônia Americana



Entregaram, logo no início do conflito, à Cruz Vermelha uma ambulância moderna e bem equipada. Ajudaram na montagem e manutenção de hospitais de campanha da Frente Sul (divisa com o Paraná) enviando remédios, roupas, lençóis e variado material hospitalar. Além disso, senhoras americana fundaram uma oficina de costura para a confecção de rupas e lençóis para a Cruz Vermelha e de enxovais para crianças. Montaram o “Posto de Auxílio Norte Americano” para distribuição de roupas às famílias dos soldados necessitados.


A Colônia Britânica



Também constituíram comissão com o objetivo de angariar donativos para a Cruz Vermelha. Liderados por F.C.S. Ford e com o apoio de Evelina Neale, Helen Hallet, reverendo Neale, Maud Ford, W.S. Hallet, T.R. Warren, R.C. Lathan, A.H.M. Thomas, C.O. Kenyan, H. Asheley Brereton, W.P. Dawson, Edith Edwards, Dorothy M. Warren, doaram um caro e muito útil aparelho portátil de Raio X.


A Colônia Japonesa



Das menos abastadas das colônias à época, não deixou o colônia nipônica de colaborar com a Guerra Cívica. Sua colaboração se deu sobretudo nos serviços hospitalares (coleta e compra de material médico) e de assistência em geral. A “Liga Japonesa Pró-Cruz Vermelha” angariou entre os membros da colônia, residentes em São Paulo, donativos relativamente elevados, em dinheiro, em material hospitalar e em cereais (sobretudo arroz) doados às cozinhas que atendiam aos soldados.




A Colônia Russa



 A “Federação das Organizações Russas” publicou um comovedor manifesto, concitando os russos ao jejum, no dia 31 de julho de 32, para que o dinheiro assim economizado revertesse em donativo à Cruz Vermelha de São Paulo. Apelou ainda aos russos residentes no Estado que ajudassem nos hospitais de sangue, o que foi prontamente atendido.



Outras colônias também colaboraram com a Revolução Constitucionalista: as colônias francesa, belga, espanhola, grega e húngara organizaram comissões para angariar donativos e todas entregaram à Cruz Vermelha ou a outras instituições de Assistência Civil sua contribuição em dinheiro, mercadorias, material hospitalar ou em serviços.

O Brasil e São Paulo agradecem o esforço de todos! 


                      


BIBLIOGRAFIA / REFERÊNCIAS

DONATO, Hernani. "História de Revolução de 32". São Paulo: IBRASA, 2002.
OLIVEIRA FILHO, Benjamim. M.M.D.C. São Paulo: Schmidt Editor, 1933.
http://emefprofbeneditomontenegro.blogspot.com.br
http://www.hospitalalemao.org.br
http://www.guapiara.sp.gov.br
http://www.japao100.com.br
Acessos em 04/08/2017




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